O investimento em Private Equity deixou de ocupar um papel marginal na alocação patrimonial de muitas famílias empresárias e passou a integrar, de forma estratégica, a arquitetura de longo prazo dos Multi Family Offices. Esse movimento não está associado a modismos ou à busca isolada por retornos elevados, mas à constatação de que existem situações em que o capital familiar, quando bem estruturado, consegue criar valor fora do alcance dos mercados líquidos.
Nesse contexto, o Private Equity não é tratado apenas como uma classe alternativa, mas como uma ferramenta de construção ativa de valor, desde que utilizada com governança, disciplina e horizonte compatível.
Por que o Private Equity ganhou espaço entre famílias empresárias
Estudos recorrentes de instituições como Campden Wealth, UBS, Bain & Company e pesquisas da Harvard Business School apontam que famílias empresárias possuem características naturalmente compatíveis com investimentos em Private Equity: horizonte de longo prazo, menor pressão por liquidez imediata, experiência operacional acumulada e capacidade de atuar como capital paciente.
Essa combinação permite sustentar ciclos mais longos de maturação, apoiar reestruturações e participar de teses de crescimento que exigem tempo e disciplina — algo difícil de replicar nos mercados públicos.
Quando faz sentido investir em Private Equity
O consenso entre especialistas é claro: Private Equity não é adequado para todos os patrimônios nem para todas as fases de uma família. Ele faz sentido quando o patrimônio já está diversificado, a liquidez de curto prazo não é determinante e existe governança patrimonial mínima estabelecida.
Tratá-lo como substituto de renda fixa ou como resposta oportunista a ciclos de mercado costuma levar à subestimação de riscos e frustrações com a iliquidez inerente a esse tipo de investimento.
Como os Multi Family Offices estruturam o acesso
Fundos de Private Equity
Modelo tradicional, com delegação total da gestão. Oferece diversificação, mas menor controle sobre ativos específicos.
Co-investimentos
Permitem participação direta em operações específicas, geralmente ao lado de um fundo âncora, com melhor relação risco-retorno.
Investimentos diretos (direct deals)
Famílias investem diretamente nas empresas, muitas vezes com participação relevante e atuação em conselho ou governança.
Club deals entre famílias
Estruturas compartilhadas que diluem risco e exigem alto nível de alinhamento e governança.
Avaliação além do valuation
Retornos consistentes em Private Equity raramente vêm apenas de múltiplos ou crescimento de mercado. A análise deve responder perguntas estruturais sobre criação de valor, capacidade de execução, governança pós-investimento e lógica de saída.
Quando o retorno depende exclusivamente de expectativas macroeconômicas, o risco tende a estar subestimado.
Onde famílias empresárias costumam gerar mais valor
Casos recorrentes mostram maior sucesso em empresas familiares em transição geracional, negócios sólidos com baixa eficiência operacional, carve-outs corporativos e setores onde a família já possui histórico e conhecimento.
Riscos que precisam ser reconhecidos
O Private Equity amplifica acertos e erros. Entre os riscos mais relevantes estão excesso de concentração, ilusão de controle sem governança, conflitos familiares e subestimação do tempo de saída.
Conclusão: Private Equity como ferramenta estratégica
Dentro de um Multi Family Office, o Private Equity não deve ser tratado como atalho para retorno, mas como ferramenta estratégica inserida em uma arquitetura patrimonial coerente.
Famílias que têm sucesso não buscam apenas as operações mais rentáveis, mas aquelas em que seu capital, experiência e horizonte de longo prazo realmente fazem diferença.
Leitura recomendada
Estratégias de Private Equity costumam falhar não por erro financeiro, mas por fragilidades estruturais da família por trás do capital. A ausência de governança, alinhamento entre gerações e clareza sucessória é um dos principais fatores que comprometem a criação de valor no longo prazo.
Para aprofundar esse tema, recomendamos a leitura do artigo Por que 70% das sucessões fracassam? As causas reais e como evitá-las nas empresas familiares, que aborda os riscos invisíveis que frequentemente destroem valor antes mesmo que as decisões de investimento entrem em jogo.



